terça-feira, 18 de dezembro de 2012

3ª Feira 21 Agosto de Maputo para Quelimane


      

Os primeiros raios de sol, ainda era madrugada, se anoitecia cedo, cerca das 17 horas amanhecia ainda mais cedo logo às 4,30 h, acordávamos com o chilrear dos pássaros, banhos em água fria e a            
Eucaristia matinal que tivemos o privilégio de ter a celebrar um padre que tratava a irmã Flora por mãe, pois tinha sido a parteira no seu nascimento. O padre Tonito na sua homilia demonstrou o carinho e apreço que tinha por aquela santa mulher já desaparecida á quase trinta anos mas ainda tão presente na memória de todos os que com ela pautaram momentos. Afazeres levaram a que o padre Tonito, apenas trocasse algumas palavras connosco, pudéssemos oferecer um livro e conhecêssemos aquela que iria ser a nossa guia espiritual durante a atividade, Irmã Ana Paula, depois das despedidas do Padre esperava-nos um pequeno-almoço que nos surpreendeu, as irmãs Franciscanas mimavam-nos demasiado, tínhamos a noção que o muito que nos davam, com certeza lhes fazia falta para fazer face a outras situações mas de nada valia apena dizer-lhes. Para descontrair um pouco e conhecer também fomos visitar a horta, onde se via um pouco de tudo, hortaliças, frutos e até animais, coelhos galinhas, também alguns pássaros como rolas era no fundo a dedicação da irmã Clara, que fazia daquele espaço um verdadeiro Éden, em terras de Moçambique. Os altos coqueiros chamavam a nossa atenção e lá tínhamos algum cuidado, não fosse levar com um na cabeça vindo de mais de 10 metros de altura, mas também as bananeiras e as mangueiras, não as de regar, mas sim do fruto “manga”, enchiam a nossa curiosidade e faziam cintilar os flaches das máquinas fotográficas que registavam tudo.
Enquanto, a irmã Ana Paula, o Zé Maria, o Fernando e o Armando, foram às comprar e cambiar algum dinheiro, o resto do grupo foi passear e visitar uma escola primária, aqui, alguns recordam a manhã de terça-feira 21Agosto, em que entraram numa sala de aula da escola primária e foram mimados com uma bela melodia sobre “amigos”; todos ficaram sensibilizados e as primeiras lágrimas surgiram. Qual roupa ou calçado de marca? Na maioria, estas crianças andavam descalços, os poucos que estavam calçados, tinham chinelos mais que gastos e rotos, mas usavam uma farda que os distinguia das outras escolas, sim porque cada escola tinha uma farda de cor diferente, aqui, as raparigas saia, e os rapazes calça azul-escuro e uma blusa ou camisa azul claro. Momentos únicos que marcaram a nossa passagem nesta comunidade de São José de Nhenhamane, tomamos conhecimento duma realidade que não sendo de todo ainda a que esperávamos ver em Gurué, nos mostrava um pouco da miséria que, muita gente passava na Capital deste País. A Casa de Madre Clara de Maputo, além de acolher em regime de orfanato, dar apoio nas escolas, também distribui uma refeição composta de sopa e pão, não apenas ás crianças do orfanato e da rua mas igualmente aos idosos e mais carenciados, pelas ruas já víamos algumas pessoas a dirigirem-se á missão
para receberem uma refeição que em muitas situações é a única refeição quente do dia.
Os afazeres para o grupo, levava-nos a ter de ir a um centro comercial, não propriamente um Shopping, que estávamos habituados, mas um centro comercial onde havia de tudo um pouco fizemos as compras necessárias, 25 repelentes com DIT 40%, 25 redes mosquiteiras impregnadas e ainda algumas coisas que podiam ser uteis, como aparelhos elétricos repelentes, pilhas etc., por fim fomos ao banco cambiar dinheiro, tínhamos muitas compras a fazer e dinheiro a entregar, deixamos aqui 3 000 € para que fosse comprada a marquesa para a maternidade do hospital de Invinha, já tínhamos entregue em Lisboa 7 500 €, tínhamos ainda algum para as obras que iriamos fazer em Gurué, era no fundo um pouco a nossa missão.
Estávamos na cidade mais cara do Mundo, nas ruas vendia-se de tudo, cada pessoa aproveitava para vender os seus produtos, alguns já em segunda mão, mas tudo servia para fazer alguns meticais e dar de comer algo aos filhos em casa.
Quando o Zé Maria, Fernando e Armando acompanhados da irmã Ana Paula chegaram á missão, os olhos de algumas jovens do grupo brilhavam, a Sara Pereira, contou a visita á escola e como não pode segurar as lágrimas, quando as crianças cantaram a canção “ amigos”, a Diana também um pouco emocionada, vivia ainda do sonho que estava a concretizar, o restante grupo juntou-se pois aproximava-se a hora de partirmos em direção a Quelimane, tínhamos ainda uma pequena viagem desde a missão até ao Aeroporto Internacional de Maputo, lá tivemos o Serginho
mais uma vez como motorista e a companhia de algumas irmãs, que mesmo sem viajarem connosco, fizeram questão de se irem despedir de nós ao Aeroporto
A viagem até Quelimane seria mais uma vez de avião, ficamos mais descansados quando vimos que não iriamos num Topolev de fabrico Russo, mas sim num Bombardier, de fabrico Brasileiro, foi uma viagem sem grande turbulência, alguns aproveitaram para tirar uma soneca, outros jogavam cartas. Alguns olhos mais brilhantes começavam a contar entre si as emoções vividas com aquelas crianças em Maputo, algumas fotos das belas praias de Maputo que se vislumbravam do ar, o tempo passou rápido, pois cerca das 17 horas já estávamos a preparar para aterrar, mais uma vez a burocracia da policia e do exército e já fora do aeroporto um monte de crianças e irmãs que nos esperavam, foi mesmo só o tempo de carregar a bagagem nos jeeps e partir em direção ao Orfanato, aqui tomamos o primeiro contacto com crianças órfãs, na Casa Madre Clara, tivemos tempo para visitar outra casa dos frades Franciscanos que acolhia apenas rapazes e ter o primeiro contacto com a realidade da pobreza, mas os nossos olhos ainda não tinham visto nada, distribuímos guloseimas e recebíamos as belas melodias daquelas crianças que nos recebiam na sua casa como se fosse a nossa “Bem-vindos a esta nossa linda casa, esperamos que se sintam bem nesta vossa linda casa”. Na verdade sentíamo-nos em casa, não sendo a nossa era como se fosse, tal o carinho com que nos recebiam e sempre nos dando o melhor que tinham, sentimo-nos um pouco mal, porque deram-nos uma camarata onde estavam algumas meninas e colocaram-nas a dormir noutra mas no chão, ao Zé Maria e Zé Fernando deram-lhes um quarto a cada um mas eles não aceitaram, preferiram ficar com o grupo. O Jantar foi juntamente com as crianças, sentíamo-nos bem pois tivemos a oportunidade de partilhar um pouco de carinho, por fim tinham uma pequena festa preparada para nós, a simplicidade desta gente derretia os nossos corações e os olhos não conseguiam reter as lágrimas, não nos queríamos prender demasiado, mas não conseguíamos deixar de dar um afeto aquelas crianças que tanta falta tinham de um miminho, um abraço ou um beijo que fosse, no final da festa e porque tínhamos de nos levantar cedo, o Zé Maria, depois de consultar o Zé Fernando e o Armando, resolveram deixar aqui mil euros do nosso pessoal, para fazer face a algumas despesas que tinham mais necessidade, não sem dizermos á madre superiora que era do nosso pessoal e não daquele que tínhamos para a missão, nesta casa que tão bem nos acolheu, não era o nosso objetivo andar como que a semear dinheiro, mas sentimos esse impulso naquele momento, os sorrisos da Mira da júlia e outras levaram-nos a esta decisão.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

2ª Feira 20 Agosto Viagem para Maputo


Chegamos a Lisboa ainda cedo, logo tocou o telemóvel, era da agência de viagens a darem-nos as boas vindas e para nos entregarem alguma documentação nomeadamente já o Check in feito, apenas teríamos d...


e fazer o embarque e entregar as malas de porão, não primeiro sem plastificarmos todos os sacos de viagem porque a isso eramos obrigados.
Um pouco mais tarde, ligou-nos a Madre superiora de Linda a Pastora, Irmã Maria de Lurdes, não só se vinha despedir de nós, como agradecer toda a dedicação do grupo a esta tão nobre causa e ao mesmo tempo pedir para levarmos alguns documentos para entregar em mão em Maputo.
A boa disposição perdurava, como que a tentarmos esquecer a árdua viagem que ainda nos esperava, tentávamos dormir mas não conseguíamos os pensamentos de momentos recentes eram mais fortes e traziam alguma mágoa, era a família que ficava para trás, o recordar de dificuldades, depois de entramos na zona internacional, a nossa inquietude era cada vez maior, chamávamos a atenção pela farda que nos prezávamos de vestir e do ideal que servíamos, alguns curiosos olhavam-nos, pensando para com os seus botões que iriamos nós fazer a Moçambique, bem na verdade se calhar nem nós sabíamos muito bem, tínhamos um sonho e estávamos perto de o concretizar, mas íamos para uma terra desconhecida e alguns medos nos assolavam. A dureza de quase 11 horas de viagem no avião da TAP com a qualidade reconhecida mundialmente a simpatia e até a curiosidade da nossa missão, íamos falando com um brilhozinho nos olhos do que nos levava a Moçambique e distribuindo alguns livros “ Flauta Partida”, e falando do nosso projeto de voluntariado e solidariedade, nenhum de nós estava preparado para tão longa viagem, enquanto uns dormitavam, o leve ressonar de outros, o Zé Maria devorava um livro e ia escrevendo algumas notas sobre a viagem, os mais audaciosos dedicavam-se a uma jogatina de cartas, a alimentação, diga-se que para quem conhece o Catering, nem era mau, mas em nada se compara a um bom cozido á Portuguesa ou uma bela Feijoada, por fim o tão desejado anuncio do comandante a informar que dentro de minutos aterraríamos no aeroporto internacional de Maputo, olhávamos o horizonte e as belezas daquele mar, á saída do avião sentíamos alguma curiosidade de como seriamos recebidos, que dificuldades teríamos com as autoridades, era para nós um ambiente desconhecido as pessoas olhavam-nos com curiosidade, também alguns receios da nossa parte que com palavras ou gestos pudéssemos melindrar as pessoas, ao sairmos para o hall, logo fomos rodeados por irmãs Franciscanas que com um carinho especial nos receberam, as autoridades até nem foram tão rígidos como esperávamos, em tom de brincadeira perguntavam para onde íamos e quanto tempo vínhamos, quando lhes dizíamos que íamos para Gurué, logo respondiam que devíamos fazer a viagem de autocarro, mas ai demoraria todo o tempo da estadia neste País.
Já no parque do aeroporto que andava em obras, feitas com capital chinês, afinal não é só em Portugal que os chinocas investem já um mini autocarro nos esperava e um Jeep, para levar a bagagem, eram velhinhos mas estavam bastante bem conservados, aquilo que teria capacidade para 15 pessoas levava 21 mais alguma bagagem, só faltava mesmo as galinhas e hortaliça, como tudo era tão diferente e pitoresco do transporte que utilizamos em Portugal, com ar condicionado, aqui apenas os vidros abertos faziam correr alguma aragem e sentirmos o cheiro característico do amontoado de bairros de lata que íamos passando. Poucas pessoas circulavam na estrada neste anoitecer do primeiro dia em África.
Era uma confusão de todo o tamanho, a condução era feita do lado contrário, as estradas lembravam um pouco as das nossas aldeias, um pouco mais esburacadas, de vez enquanto lá aparecia uma lomba e os buracos, bem esses eram mais que muitos mais parecia um queijo suíço num alcatrão já gasto pelo tempo. Por fim chegamos á missão Igreja São José de Nhenhamane, já estava escuro embora apenas fossem 20 horas, foi neste local que estas mulheres simples de Deus nos receberam e deram muito do pouco que tinham, estávamos cansados, mas a felicidade da Irmã Cecília fazia-nos ganhar novas energias. Meu Deus, como se sentiam felizes, aqueles que nos acolhiam neste primeiro dia em terras de moçambique, partilhando connosco a refeição, não foi muito, mas foi bom em especial a fruta. Por fim o aconchego e descanso numa cama e as melgas por companhia, cada um de nós deitava mão ao que tinha, fosse repelente, aparelhos elétricos, velas e até as famosas folhas de eucalipto que o chefe Costa trazia na sua bagagem, mas mesmo assim não escapamos a algumas picadelas, bem o Zé Maria, não sei se foi melga ou leão a verdade é que tinha uma grande mordedura e já a infecionar, lá tivemos de deitar mão á farmácia de serviço e as mãos das nossas enfermeiras do grupo.