sexta-feira, 19 de abril de 2013

5ª Feira 23 de Agosto

Primeiro dia em Invinha

O amanhecer em Invinha é bem cedo, logo por volta de 5 horas começa a clarear o dia, acordamos com o chilrear dos pássaros, o ladrar dos cães que tanto nos recorda o nosso Portugal e as nossas aldeias, mas também com as vozes das crianças da missão que se preparam para irem para a escola, desde a higiene pessoal até um pequeno-almoço, antes das aulas que começam com a concentração no campo de jogos logo às 6,45h.
Nós no entanto como ilustres visitantes, como diziam as crianças, podíamos levantar mais tarde, o nosso pequeno-almoço era apenas às 7,30 horas, café com leite, manteiga e chocolate, eramos tratados duma forma que não queríamos nem desejávamos, desde o princípio o nosso sonho era, ter o mesmo tratamento daqueles que nos rodeavam, queríamos ter a noção do que é ser jovem e criança em Invinha onde a Irmã Flora se dedicou de alma e coração, mal nós sabíamos que havíamos de sair deste local sem saber essa realidade.
O retemperar de forças chegava ao fim, e já os jeeps se encontravam prontos para nos transportar até Gurué, onde além de visitar a cidade e capital de distrito iriamos também ser recebidos pelo Senhor Bispo.

Fomos recebidos por Dom Francisco, que além de nos mostrar a sua obra, nos recebeu com muito carinho, aqui na residência episcopal com uma vista fenomenal sobre o monte Namúli, tomamos conhecimento das dificuldades que mesmo um Bispo naquelas longínquas terras passa, Dom Francisco tem a Nacionalidade espanhola, tem uma casa simples dotada de algumas infraestruturas, como internet, mas onde a maioria dos computadores não funcionam devido á falta de manutenção, uma secretaria onde a maior parte das coisas são feitas á mão e arquivado depois.
As obras de recuperação que está a fazer assim como ampliação, visa dotar o paço, duma residência/casa de repouso para padres em recuperação, assim como visitantes que eventualmente passem por aqui, não é nada especial, mas num local daqueles é de certa forma um luxo.
Oferecemo-nos para mandar alguém do nosso grupo, para ajudar no que pudéssemos em especial arranjar os computadores e fazer-mos alguma manutenção, ficamos assim combinados que o Tiago, Abílio e Armando, no sábado seguinte iriam para a residência do Senhor Bispo.
Depois de comprar algumas recordações em especial, livros e trabalhos em madeira, Dom Francisco convidou-nos a visitar a oficina onde alguns artesões trabalhavam a madeira e por fim um café e aí nos deu a conhecer um correio eletrónico que tinha chegado de Portugal de alguém preocupado por não ter noticias nossas. Logo deu resposta, com a promessa de que cada um de nós telefonaria aos seus e entre gargalhadas lá continuamos a falar do que era a nossa aventura, o que nos tinha trazido a estas terras tão distantes de Fafe e Vieira, o sonho de fazer algo pelos outros e acima de tudo a vontade de prestar uma homenagem á Irmã Flora, que Dom Francisco não conheceu, mas de quem tinha escutado coisas maravilhosas, falamos como não podia deixar de ser do escutismo e do que é ser “Escuteiro Católico”, os olhos do senhor Bispo brilhavam, mostrando a vontade de que fosse possivel formar escutismo em Gurué, assim pediu-nos que passássemos á residência do Padre Luciano, pois seria alguém interessado nesse projeto.
Depois das despedidas e do convite por parte da irmã Ana Paula e Madalena, para que o senhor bispo estivesse presente na semana seguinte em Invinha, para um almoço com os pobres e carenciados, este consultou a sua agenda, pois andava em visitas pastorais e teria de aproveitar o tempo propício antes das chuvas de outono pois nessa altura não seria possivel visitar as aldeias mais do interior, porque as estradas estariam inundadas e desta forma intransitáveis, mas um sim foi a sua resposta depois de mais uma insistência da nossa parte.
Passamos em Gurué, por diversos locais, as estradas esburacadas e em terra batida, com os esgotos á vista, deixavam um cheiro nauseabundo ao qual não estava a ser fácil ambientar-nos, o mercado ao ar livro onde se encontrava de tudo, o peixe e carne empestado de moscas, os pregos e parafusos á mistura, o material elétrico, os perfumes de fraca qualidade e o tão desejado sabão (caríssimo) o sal a granel duma cor esquisita tudo se podia comprar desde que houvesse meticais, o que na verdade não estava ao alcance de todos. Algumas pessoas aproveitavam para venderem os seus produtos da terra, ou até os bolos confecionados por eles mesmo mas nos quais a higiene deixava um pouco a desejar e nenhum de nós se atrevia a provar, não fossemos brindados com uma diarreia.
Aproximava-se a hora do almoço, uma passagem rápida á casa “Artes e Ofícios” também uma obra de Padres Italianos em especial o Padre Hilário e por fim a visita á Associação do Padre Luciano, por conselho do senhor Bispo, pois estaria interessado em formar o escutismo católico.
O Padre Luciano devido a outros afazeres, não nos poderia receber, eventualmente apenas da parte de tarde. 
Regressamos a Invinha para almoçar, peixe frito, salada e arroz, sem faltar o café no final, começava no grupo a sentir-se alguma frustração, afinal tínhamos vindo para trabalhar e andávamos a passear, não foi para isto que viemos de tão longe a Invinha, queríamos deixar a nossa marca, queríamos fazer algo com as nossas próprias mão, queríamos tal como a irmã Flora dedicar um pouco de nós aquela gente que tão bem nos recebeu.
Mais uma vez nos deslocamos a Gurué para estarmos com o Padre Luciano, o que para grande deceção nossa, não foi possivel, á entrada estava um Guarda que além de nos impedir de tirar fotos, apenas se predispôs a chamar Dom Manuel, o ex. Bispo de Gurué, ficamos contentes, ao menos não perdíamos tudo, e foi com um sorriso que Dom Manuel nos recebeu, fazendo questão de cumprimentar um a um cada elemento do grupo, pois já tinha escutado noticias sobre a nossa vinda e do que vínhamos fazer, ele que tinha lidado de perto com a Irmã Flora traçou os mais altos elogios á obra desta santa mulher que ilumina o nosso caminho desde o longínquo ano de 2009 em que iniciamos esta caminhada.

Dom Manuel tinha deixado o paço aquando de um AVC e estava recolhido na Associação do padre Luciano onde dava apoio aos jovens que recolhiam para estudarem, custava-lhe imenso a caminhar.

Depois de mostramos a intenção de nos encontrarmos com o padre Luciano por incentivo de Dom Francisco, e insistência da irmã Ana Paula, Dom Manuel, marcou para que no dia seguinte á tarde voltássemos para uma visita local e o tão desejado encontro, entretanto a irmã Madalena não parava de magicar, aquela santa mulher ainda não tinha saído de uma já estaria a pensar na próxima, já tinha telefonado a encomendar cerca de 2 000 pães, pois fazia questão de que distribuíssemos não só na escola de Invinha mas também nas ruas e nas outras escolas das redondezas, pelas crianças pão com manteiga, assim de seguida fomos á padaria buscar a encomenda de mil pães e alguns quilos de manteiga, era a nossa tarefa no final do dia colocar manteiga no pão para fazermos uma primeira distribuição logo pela manha. Pelo caminho ainda compramos sal e sabão, assim como sabonetes e pasta de dentes entre outras coisas necessárias para a missão.
Antes do jantar as jovens tinham preparado uma celebração da palavra uma vez que o padre que estava previsto vir celebrar não podia, acontecia muitas vezes pois tinham de se deslocar e não era fácil com os transportes, foi uma celebração simples, mas que muito nos agradou, rejuvenescendo de alguma forma o nosso corpo espiritualmente, depois do jantar aproveitamos para passear um pouco, aqueles que o quisessem fazer, telefonar, sendo que teriam de se deslocar para fora da missão a caminho da igreja, o que por um lado era um privilégio, pois podíamos contactar com as pessoas que nos olhavam com alguma estranheza. 
O jantar á hora habitual, frango frito e batatas fritas acompanhado de uma salada, tudo produtos da machamba (campo onde cultivam tudo) da missão, no final do jantar uma volta pela missão e mais um alegre fogo de conselho em que não só nos divertimos como divertimos também aquelas jovens, que mesmo longe dos seus familiares pelas mais diversas razões nos mostravam que a vida deve ser levada com alegria e um sorriso, mesmo que o seu coração chorasse, cantavam alegres melodias que nos enchiam de felicidade fazendo por momentos esquecer que estávamos longe dos nossos familiares. A noite chegava depressa e com ela, as nossas avaliações, entre algumas discussões, chegava-mos mais uma vez á conclusão que tínhamos vindo a esta terra para dar um pouco de nós e era mesmo o que queríamos fazer, a missão precisava imenso; vidros nas janelas fechaduras nas portas, redes mosquiteiras nas janelas, lâmpadas e tanto, tanto mais. Decidimos então que no dia seguinte falaríamos com a irmã Madalena a responsável da missão, queríamos fazer algo, começar a trabalhar, se por um lado era importante conhecer o terreno, as pessoas etc., por outro lado o nosso coração ansiava por fazer algo por aquelas pessoas. Tínhamos já terminado a nossa tarefa mais de mil pães já tinham manteiga para serem distribuídos pelas crianças e com o nosso coração feliz deitamo-nos felizes.