sábado, 3 de novembro de 2012

A Vida é feita de encontros e desencontros

         A Vida é feita de encontros e desencontros, partidas e chegadas, umas deixam marcas pela positiva, outras nem tanto.
          Uma noite como tantas outras, numa atividade de Escuteiros igual também a muitas, a desilusão de um dia mal conseguido e até uma lágrima que teimava cair pela face, apenas o silêncio na escuridão e as estrelas que nos acalentavam naquele campo Mundial de Kandersteg.
         Bem lá distante, uma estrela mais brilhante dava luz á noite que avançava, e o silêncio por vezes quebrado pelo pio das aves noturnas até que tu, Fernando, olhando a mesma estrela que eu, quebraste a monotonia daquele momento…
         - Sabes, esta grande atividade está a chegar ao fim, agora o meu desejo era, ir a África fazer Voluntariado.
         Eu não retirei os olhos do Céu, e respondi-te…
         - Sabes que esse era um meu sonho e ao mesmo tempo a minha promessa, para que no dia que o meu filho se Formasse, eu iria em Voluntariado e Solidariedade para junto daqueles que mais precisassem.
         Foi aí que me contaste a história da “ Flauta partida” e da tua tia “ Irmã Flora”. Nesse momento imaginei aquela estrela, sim, a mais brilhante como se fosse a irmã Flora a iluminar o nosso sonho e abençoar o projeto que nascia nas terras longínquas e frias da Suíça.
         Durante o regresso a Portugal falamos várias vezes sobre o mesmo assunto, falamos dos sonhos, idealizamos coisas e até já nos imaginávamos lá a ajudar aquelas crianças e os mais necessitados, eramos os mentores desta iniciativa e vibrávamos com tudo isto.
         Os primeiros passos do projeto, “Mãos dadas por Moçambique - Flauta Partida”, estavam dados.
         Pouco a pouco outros se foram juntando ao projeto, entre avanços e recuos uma luz continuava a brilhar longe, o sonho era grande, para alguns, impossível de concretizar, para os mais ambiciosos, apenas o caminhar e uma luta constante até alcançar a realização do sonho. Aqueles que entraram nesta viagem á posterior nunca chegaram a valorizar o trabalho feito, atrever-me-ia a dizer que no fundo é como um restaurante onde a confeção de um belo Jantar, começa com a aquisição dos melhores produtos (foram as parcerias estabelecidas) depois a confeção (os contactos realizados e preparação), e por fim a degustação visual, (preparação e trabalho pessoal de cada um), o prazer de saborear esse belo prato (viver a atividade em si), claro que no final do jantar servido, mais não resta que pagar e sair do restaurante, satisfeito e feliz com a barriguita cheia e o prazer de ter saboreado uma magnífica refeição (a atividade termina e cada um segue o seu rumo), facilmente nos esquecemos que ainda falta arrumar e lavar a louça, porque no fundo, pagamos para comer, foram os 18 dias fantásticos, muitos sorrisos, algumas lágrimas, muitos amigos e em alguns uma ansiedade louca de um dia voltar, mas a vida é mesmo como uma viagem, que em vários locais tem estações e paragens, a vida é cheia de chegadas e partidas, da mesma forma que chegamos, cheios de sorrisos e alegria, partimos com a sensação de dever cumprido e acima de tudo a certeza que deixamos aquele pequeno mundo de Invinha um pouco melhor do que o encontramos, a sensação de dever cumprido para alguns.
         A verdade é que ainda falta fazer algo, para não dizer muito, tal como naquela noite fria na Suíça, a estrela continua a brilhar bem longe, ela que nos iluminou o caminho, nos amparou, quando em alguns momentos tropeçamos, nunca nos deixou cair, muitos foram os obstáculos, mas sempre com aquele brilho distante a nos iluminar o caminho, lá se encontram de novo os dois amigos, quase dois meses depois do grande sonho concretizado, cansados e desgastados, mas com uma vontade muito grande de continuar, seguir em frente e fazer algo mais.
         - E agora Zé? Ainda falta mandar a avaliação para o FSD, ainda falta entregar os relatórios da atividade em si e cá estamos de novo nós dois como á 3 anos na Suíça.
         - Sim é verdade Zé Fernando, olha lá no alto, aquela estrela, a mesma que á já á alguns anos tem iluminado o nosso caminho.
         - Podes crer é a mesma estrela que estava por cima daquele embondeiro, junto aquela campa branca onde deixamos a       placa, viste?
         - Sim, ao menos que essa estrela que sem nunca o termos dito, mas é a irmã Flora a acompanhar-nos, continue a iluminar aquelas crianças de Maputo, Quelimane e Invinha, sem esquecer todos aqueles que sofrem no mundo. Que a estrela que ao longo da vida da irmã Flora, iluminou aquela gente, continue a brilhar na vida de cada um….
         - Zé Fernando, temos estado no silêncio até agora, ainda se calhar digerindo as palavras daqueles que nos disseram, como a irmã Flora foi e continuará a ser recordada nos últimos 30 anos, vocês também serão recordados nos próximos.
         - Não será tão só isso Zé, tenho falado com alguns jovens de lá no Face, quero manter vivo o escutismo que lá regamos e se um dia a vida o permitir voltar.
         - Conta comigo Zé Fernando. A estrela continuará a brilhar…. E vou começar neste cantinho a escrever a história da nossa viagem, já descansamos e disfrutamos o suficiente agora vamos dar a conhecer as nossas aventuras dia a dia.