quarta-feira, 22 de abril de 2020
Mãos dadas por Moçambique / Flauta Partida 2022
Apesar do belo dia de sol e da temperatura amena de Sábado 14
de Março, dia marcado para a primeira reunião do projecto, Mãos dadas por Moçambique / Flauta Partida 2022 a participação
ficou muito aquém do esperado.
Talvez a hora não tenha sido a adequada, talvez o receio do
COVID 19 ou se calhar a falta de interesse. O grupo de trabalho está criado e
traçaram-se as primeiras linhas e objectivos.
- Tudo aponta para que esta actividade seja levada a cabo
mais ou menos na mesma ocasião de 2012 ou seja Agosto/Setembro.
- Actividade não apenas a escuteiros mas aberta a todos os
que desejem participar sendo que para tal haverá um seguro obrigatório.
- O objectivo principal será a cobertura de parte da Escola
de Invinha e a construção de casas de banho no Centro de Saúde de Invinha, para
que em especial as parturientes tenham a sua dignidade mínima garantida.
- A actividade está aberta a cerca de 20 elementos com as
inscrições abertas a partir de agora, apenas desejando que sejam pessoas com a
verdadeira vontade de ir e acima de tudo espírito de voluntariado e
solidariedade.
- Foi igualmente decidido manter o contacto com as irmãs
Franciscanas em Portugal e Moçambique. Contactar o Núcleo de Vieira do Minho no
sentido de utilizar novamente a conta de Núcleo para donativos e todos os
depósitos á semelhança de 2012. Mas acima de tudo se a Marquesa de parturientes
foi adquirida para o Hospital.
- Algumas ideias foram lançadas para a angariação de fundos
numa primeira fase e para a viagem numa segunda. Aguardam-se sugestões de
qualquer maneira ficam desde já ideias:
Arraiais * Jantares * Caminhadas *………………………..
Contactos provisórios:
José
Fernando Castro – Vieira do Minho
fernandosdecastro@hotmail.com
96
430 05 88
José
Maria Rodrigues Cunha
96
779 79 73
Carlos
Atilano - Guimarães
92
418 23 04
Já regresamos a Portugal
FLAUTA PARTIDA O REGRESSO 2022
Depois do regresso a Portugal já lá vão oito anos de ter vivido tantas emoções por terras de Moçambique, regressamos com o coração cheio de alegrias e o sentimento do dever cumprido com o planeado todos nos ficamos com a ideia de podermos fazer mais, não importa quando quem ou como mas sabemos onde e o projecto flauta partida não treinam aqui, Invinha Gurué precisa de nós.
Agora mais do nunca sabemos o quanto é importante para os jovens e crianças o nosso regresso.
Sim vamos regressar!!!!
quarta-feira, 18 de setembro de 2013
Sábado 25 de Agosto
Sábado 25 de Agosto
Finalmente a trabalhar de sol a sol
Os grupos começaram a trabalhar, acorrendo na escola como
primeira necessidade.
Eu e o Zé Fernando, conduzidos pela Irmã Ana Paula e na
companhia da irmã Madalena, com uma miúda que tinha de ir ao hospital pois
estava com Paludismo, fomos a Gurué às compras, os outros grupos já se
preparavam para começarem nos seus locais.
Entretanto tinha vindo um carro do Paço, para levar o
Armando, Abílio e Tiago, pois iriam tratar dos computadores.
Construção de um passeio, na época das chuvas além de ficar
todo alagado, como a terra é barrenta, os alunos sujam as salas todas, 17 sacos
de cimentos foi o necessário, além de termos de ir carregar pedra às montanhas
para servir de cascalho.
Canalização, muitas eram as torneiras que não funcionavam,
substituir umas arranjar outras, no fundo estavam a perder uma das maiores
necessidades desta população “Água”.
Carpintaria, esta escola têm 7 anos, creio nunca ter tido
obras de fundo em pequenas reparações, portas que não fechavam, ou por falta de
fechaduras ou outras avarias, não eram atos de vandalismo como se vê muito nas
nossas escolas em Portugal, simplesmente avarias para as quais não há resposta,
porque o estado apenas paga a professores e não um funcionário para estas
pequenas tarefas diárias.
O dia de trabalho até foi proveitoso, todos distribuídos em
diversos setores, até o Armando, Tiago e Abílio se deslocaram a Gurué á
residência do Senhor Bispo para fazerem não apenas reparações nos computadores,
mas igualmente alguma atualizações e descarregar programas de software,
antivírus, assim como de limpezas.
Muito próximo do meio-dia chegávamos com o material que
tínhamos comprado para fazer as reparações necessárias nos diversos setores,
tínhamos gasto segundo a irmã Madalena, uma pequena fortuna foram cerca de 15
mil meticais pouco mais de 500€.
- Só este cimento diz-nos o Guilherme, já gastamos os 5
sacos e vamos precisar de mais de 30.
- Eh pá, olha que cada um custa 150 meticais isso aqui é
muito dinheiro e quem fez a multiplicação dos pães e dos peixes foi Cristo eu
não o consigo fazer. Respondi a sorrir.
- Desenrasca-te Zé, disse o Carlos.
Na verdade estava mesmo tramado, naquele momento apeteceu-me
não apelar só a Cristo, mas aos Santos todos, para fazer crescer o dinheiro.
Depois de descarregar, fomos almoçar, embora a boa disposição perdurasse,
algum mal-estar entre elementos era notório, que pouco a pouco foi
desvanecendo-se com o descarregar de material, pois a nossa missão
verdadeiramente dita iria começar. Alguns elementos já nem queriam almoçar o
desejo de deitar mãos á obra era imenso, mas por vezes é bom, deixar falar mais
alto a razão do que o coração e lá fomos fazer bem ao estômago que já pedia e
as irmãs já nos tinham chamado, olhando uns para os outros sorriamos, ver quem
estava mais sujo.
Como Escuteiros sempre o fizemos, mas neste dia, mais
empolgados agradecemos a Deus pelos alimentos da machamba, mas igualmente por
estarmos enfim a trabalhar em prol daquela missão, tentando de alguma forma
deixar o mundo um pouco melhor do que o encontramos.
O sol estava a pico, e o calor era imenso, a água que nos
matava a sede parecia chá, mas sabia bem, as roupas coladas ao corpo de
transpirar, mas fazíamos o trabalho com um carinho acrescido, o passeio começava
a ganhar forma, mas depressa o cimento tinha acabado, os muros começavam a
ganhar uma bela cor verde kiwi, as janelas começavam a ficar com alguns buracos
abertos de tirarmos os vidros que estavam partidos.
Começava a anoitecer em Invinha, um por do sol maravilhoso
se via no horizonte o vermelho fogo, fazia inveja aos nossos braços e costas,
as carecas essas também em nada ficavam a dever á cor salmonada de cada um.
Fomos tomar um merecido duche depois de arrumar as coisas, entretanto os que se
tinham deslocado a Gurué ao Paço também chegaram, dando conta do imenso
trabalho que lá fizeram e se mais não fizeram foi porque não encontraram peças
para arranjar os computadores, até a fotocopiadora e as impressoras ficaram a
trabalhar, D. Francisco, esse não cabia em si de contente com o trabalho
realizado por nós e mandou os cumprimentos dele a todo o grupo agradecendo a
Deus a dádiva que lhes tinha chegado através dos Escuteiros da Região de Braga.
O Zé Fernando,
Depois do jantar as chamadas da praxe para casa de cada um,
mais uma animada festa conjunta entre as jovens da Casa e o nosso grupo, o
Guilherme, bem esse em nada nos surpreendeu, parecia que tinha eletricidade e
estava em todas até se pintou para parecer um preto, quase todos nós
parecíamos, pois o bronze forçado já se fazia notar em alguns, outros pareciam
mais índios.
Aproveitamos o momento de divertimento, para distribuir
algumas prendas às jovens da casa, não era muito, mas algum material escolar,
sabonetes e pasta de dentes, para nós elementar, mas para eles uma raridade.
Aquelas jovens, com certeza que iriam dormir com um sorriso
muito mais rasgado, tal era a felicidade delas, não conheceram a irmã Flora,
algumas nem tão pouco tinham ouvido falar dela, apenas recentemente na
preparação para a nossa visita, mas sem duvida que era uma dádiva a nossa
chegada com os presentes que não sendo nada especiais para eles eram muito, até
um simples rebuçado.
Pouco a pouco, a resistência ia quebrando e o sono também e
cada um recolheu aos seus aposentos depois da habitual avaliação que diga-se
não correu nada bem.
Mais uma vez a discórdia e a discussão, o stress começava a
apoderar-se do grupo, talvez por querermos fazer muito e não nos estava a ser
dada essa hipótese ou porque um ou outro elemento estivesse em busca do
protagonismo, a verdade é que não correu nada bem, chegando ao ponto de
pensarmos acabar com estas avaliações que a nada estavam a levar, senão um
reavivar de discussão,
- Vai ser isto todos os dias. Perguntou a Cláudia Gomes.
- Realmente para discutirmos, mais vale irmos dormir. Disse
o Costa
- Isto deve ser do cansaço. Mas acho melhor no futuro,
prepararmos o dia seguinte e esquecer o dia que passou para que isto não volte
a acontecer. Respondi eu.
- Até aqui, era por não haver trabalho, agora que começamos
a trabalhar qual é a razão? Perguntou de novo a Cláudia.
- Será que depois dum dia cansativo como o de hoje, vocês
ainda têm tempo para esta discórdia? Não somos todos amigos e acima de tudo
escuteiros?
- Sabem, hoje é um dia por si só bastante triste para mim,
mesmo que tenham passado muitos anos, faz hoje 37 anos que morreu o meu pai, e
acho que não estamos aqui para discussões supérfluas, até amanhã, e afastei-me
do resto do grupo.
Devia ser apenas o stress de um dia cheio de trabalho, já
com os ânimos mais calmos, cada um recolheu-se aos seus aposentos. Como o meu
quarto ficava junto ao do Zé Fernando e porque o vi abatido, depois de ter
tomado banho, bati á porta para falar com ele um pouco.
Quando me abriu a porta, era notório que tinha estado a
chorar, sim os homens também choram e não é vergonha nenhuma, pessoalmente nada
mais me magoou de que ver este homem chorar, é sem duvida a ele que se deve
esta atividade, foi ele que sonhou e com certeza mais trabalhou para a
concretização da ida a Invinha, foi o Zé Fernando o grande mentor e
impulsionador, não merecia de forma alguma passar por situações que tem
passado.
Nesse momento pensei para com os meus botões:
- Não custa nada seguir uma grande viagem, mesmo que a mesma
seja numa carroça, porque no fundo quem vai em cima é puxado.
- Será que todos os elementos, estão com o espírito que se
pede a um escuteiro? - Pensei para comigo em voz alta partilhando com o Zé
Fernando, que com voz ainda aos soluços dizia.
- Talvez seja o que merecemos por todo o empenho que pusemos
nesta atividade, custe o que custar levaremos até ao fim, depois logo se vê.
Eu continuava a memorizar todas estas passagens, que um dia
havia de transcrever para papel, sem querer de forma alguma ferir
suscetividades.
Com um abraço e uma até amanhã fomos descansar, pois
esperava-nos um dia especial, em que iríamos ser recebidos em comunidade.
sexta-feira, 26 de julho de 2013
6ª Feira 24 Agosto Segundo dia em Invinha
Mais um amanhecer nas longínquas terras de África, ao som do
chilrear dos pássaros e o aroma daquela terra barrenta, misturado com alegre
cantarolar das crianças do internato. O pequeno-almoço já esperava por nós, não
nos sentíamos de forma alguma satisfeitos, pois a nossa estadia estava de certa
forma a ser de mera visita e laser e não o que nos propusemos desde de início,
deixar a nossa marca com trabalho voluntário.
O trabalho para o dia já estava delineado, iríamos continuar
com a distribuição de pão agora pelas ruas e pelas escolas em especial
aproveitando a viagem até Gurué, pois iríamos visitar o Padre Luciano, que nos
recebeu muito cordialmente e acompanhou-nos numa visita pelo espaço, aqui
tivemos a oportunidade de ver alguns animais selvagens, nomeadamente
crocodilos, aranhas gigantes e outros animais, ficamos também a perceber, que
neste local além de estarem jovens internos também estão em regime de internato
seminaristas e alguns escuteiros que pertencem ao Grupo de Gurué, além de que a
quinta também serve, para alojar algumas entidades que de visita a Gurué possam
desfrutar dum local de acolhimento com alguma segurança.
O padre Luciano, logo nos lançou o convite para um encontro
entre os jovens do nosso grupo, os seminaristas assim como o Grupo de
Escuteiros de Gurué e alguns jovens que quiséssemos trazer de Invinha, para
quem sabe as sementes do escutismo, que mesmo não sendo a nossa prioridade
seria sem dúvida um objetivo, mais uma vez o entusiasmo fazia-se notar na nossa
face. Este encontro ficou marcado para o Domingo às 15 h com jantar e partilha
de conhecimentos através do jogo. A manhã chegava ao fim e a fome também
começava a apertar, tínhamos também marcado uma reunião de avaliação para a
parte de tarde e um levantamento do ponto da situação, a nossa conversa com a
irmã Madalena, tinha dado resultado e por fim iríamos deitar mãos á obra. Não
foi de todo fácil fazermos as equipas, porque todos queriam estar em todo o
lado, mas o nosso objetivo inicial iria ser cumprido com a divisão do grupo em
função das suas aptidões profissionais. Também era necessário fazer um
levantamento do trabalho a realizar, assim como o material necessário, desta
forma ficaram constituídos os grupos.
Grupo de Eletricidade
Zé Fernando * Costa * Paulo * Luís
Informática e contabilidade
Tiago * Abílio * Armando
Saúde * Educação
Sara Cunha * Liliana * Patrícia Ribeiro * Marta * Patrícia
Pereira *Cláudia Gomes * Sara Pereira
Construção Civil * Carpintaria e Canalização
Guilherme * Nelson * Diana * Cláudia Daniela * Tânia *
Carlos
Responsável material e compras
Zé Maria
Agricultura
Todos dariam o seu contributo num dia em que juntamente com
as pessoas da aldeia iríamos fazer os trabalhos de preparação para as
sementeiras, na Machamba, assim se chamava o campo.
As Equipas iam mudando de local em função das necessidades,
muito era o trabalho e apesar de sermos 21 elementos em algumas situações
éramos poucos para o trabalho a fazer, tínhamos na verdade de valer em muitos
locais.
Como responsável na aquisição de material e pelo
levantamento de trabalhos a efetuar em alguns momentos atei as mãos na cabeça e
partilhei com o Zé Fernando a minha preocupação, não sabia como havia de
esticar o dinheiro para valer a tantas necessidades, mas o que mais me marcou
foi a biblioteca e o material escolar, as crianças vêm para a escola apenas com
um rudimentar caderno de apontamentos, livros não existem, apenas alguns e em
mau estado na biblioteca que acabam por servir de consulta, para os cerca de
1000 alunos que frequentam a Escola Secundária Madre Maria Clara.
Depois de conversar com a Irmã responsável da Escola e
diretora ficamos a saber que muitos destes alunos deslocam-se de bicicleta de
aldeias distantes e a grande maioria a pé, demorando em muitos casos mais de 3
horas, pois transportes públicos não existem. Pior ainda a escola começa às
06,45 com a formatura e apresentação, com algumas notícias e o canto do Hino
nacional, mesmo sabendo que esta escola tem cariz Católico ela é frequentada
por alunos de outras religiões nomeadamente Muçulmana e até Hindus, não deixam
de fazer as suas orações. Na verdade a evolução, como se costuma dizer, em
Portugal retiraram os sinais de catolicismo das escolas, mas também retiraram o
que nos marca como nação, se a moeda com a adesão á moeda única fez desaparecer
o escudo, a bandeira Nacional já é sub valorizada em relação á bandeira da
União Europeia e até o Hino deixou de ser um hábito nas nossas escolas daí não
ser de admirar que a grande maioria dos nossos jovens não o saibam cantar.
Na biblioteca dei-me conta das muitas necessidades,
nomeadamente:
Dicionários de Português – Inglês – Português
Dicionário de Português – Francês – Português
Livros de Filosofia 11º e 12º ano
Livros de Biologia 11º e 12º ano
Livros de matemática todos os anos
Além de como já referi antes quase todo o material escolar.
A noite começava a cair e a lista de trabalhos e respetivas
necessidades a aumentar, como iriamos transportar cimento, ferro, areia, vidros
etc. para fazer face às reparações necessárias na Escola, e na casa principal.
Tínhamos pela nossa frente o árduo trabalho de fazer um passeio de mais de 50
metros, carregar com pedra e fazer as cofragens, tínhamos muitos interruptores,
lâmpadas, tomadas para mudar, até o ar condicionado e os computadores da secretaria
tinham de sofrer reparações, além dos muitos vidros partidos, fechaduras e
torneiras para substituir, e não se pense que era por vandalismo dos alunos,
era tão só falta de manutenção por pessoal qualificado e das intempéries do
clima ao longo dos anos.
A ansiedade de começar os trabalhos era evidente, alguns já
tinham andado a preparar durante a tarde os muros que iriam ser pintados,
outros já preparavam o terreno onde iria nascer o passeio, já não havia fome,
foi necessário mais que uma vez a irmã Ana Paula, vir chamar o pessoal, o
Barnabé, bem esse levava-nos a tantos sítios para ver o que fazia falta e eram
tantos que já dava impressão de termos lá passado mais que uma vez, a lista era
imensa, começávamos a ter algumas dúvidas; será que encontraríamos o material
que queríamos? Será que tínhamos dinheiro que chegasse?
Foi com todas estas dúvidas que depois de tantas
insistências da irmã Ana Paula nossa guia espiritual e até da irmã Palmira,
responsável do Hospital, que nos sentamos á mesa para jantar.
Nesta noite e porque as crianças não tinham escola no dia
seguinte, quisemos ser nós a brindá-los com uma pequena festa e animação,
fazendo com que através do jogo escutista os inseríssemos nas brincadeiras, as
jovens deliravam, começava a haver uma forte empatia, queriam saber tudo sobre
nós, quem éramos? Porque viemos? O que fazíamos na nossa vida pessoal? Sei lá
tantas coisas e tantas perguntas que às vezes era preciso ter certo cuidado,
para não melindrar aquelas jovens, algumas delas tão já magoadas pela dura
vida.
Como habitual, pouco depois das 22,30 o dia chegava ao fim,
com as orações e uma última canção cada um recolhia aos seus aposentos, alguns
ainda aproveitavam enquanto os cães não estavam soltos para fumar um último
cigarro ou até para telefonar aos familiares.
Apesar de alguns e pequenos conflitos, já se notava uma
certa alegria, por enfim estávamos a trabalhar prol daquela gente.
sexta-feira, 19 de abril de 2013
5ª Feira 23 de Agosto
Primeiro dia em Invinha
O amanhecer em Invinha é bem cedo, logo por volta de 5 horas começa a clarear o dia, acordamos com o chilrear dos pássaros, o ladrar dos cães que tanto nos recorda o nosso Portugal e as nossas aldeias, mas também com as vozes das crianças da missão que se preparam para irem para a escola, desde a higiene pessoal até um pequeno-almoço, antes das aulas que começam com a concentração no campo de jogos logo às 6,45h.
Nós no entanto como ilustres visitantes, como diziam as crianças, podíamos levantar mais tarde, o nosso pequeno-almoço era apenas às 7,30 horas, café com leite, manteiga e chocolate, eramos tratados duma forma que não queríamos nem desejávamos, desde o princípio o nosso sonho era, ter o mesmo tratamento daqueles que nos rodeavam, queríamos ter a noção do que é ser jovem e criança em Invinha onde a Irmã Flora se dedicou de alma e coração, mal nós sabíamos que havíamos de sair deste local sem saber essa realidade.
O retemperar de forças chegava ao fim, e já os jeeps se encontravam prontos para nos transportar até Gurué, onde além de visitar a cidade e capital de distrito iriamos também ser recebidos pelo Senhor Bispo.
Fomos recebidos por Dom Francisco, que além de nos mostrar a sua obra, nos recebeu com muito carinho, aqui na residência episcopal com uma vista fenomenal sobre o monte Namúli, tomamos conhecimento das dificuldades que mesmo um Bispo naquelas longínquas terras passa, Dom Francisco tem a Nacionalidade espanhola, tem uma casa simples dotada de algumas infraestruturas, como internet, mas onde a maioria dos computadores não funcionam devido á falta de manutenção, uma secretaria onde a maior parte das coisas são feitas á mão e arquivado depois.
As obras de recuperação que está a fazer assim como ampliação, visa dotar o paço, duma residência/casa de repouso para padres em recuperação, assim como visitantes que eventualmente passem por aqui, não é nada especial, mas num local daqueles é de certa forma um luxo.
Oferecemo-nos para mandar alguém do nosso grupo, para ajudar no que pudéssemos em especial arranjar os computadores e fazer-mos alguma manutenção, ficamos assim combinados que o Tiago, Abílio e Armando, no sábado seguinte iriam para a residência do Senhor Bispo.
Depois de comprar algumas recordações em especial, livros e trabalhos em madeira, Dom Francisco convidou-nos a visitar a oficina onde alguns artesões trabalhavam a madeira e por fim um café e aí nos deu a conhecer um correio eletrónico que tinha chegado de Portugal de alguém preocupado por não ter noticias nossas. Logo deu resposta, com a promessa de que cada um de nós telefonaria aos seus e entre gargalhadas lá continuamos a falar do que era a nossa aventura, o que nos tinha trazido a estas terras tão distantes de Fafe e Vieira, o sonho de fazer algo pelos outros e acima de tudo a vontade de prestar uma homenagem á Irmã Flora, que Dom Francisco não conheceu, mas de quem tinha escutado coisas maravilhosas, falamos como não podia deixar de ser do escutismo e do que é ser “Escuteiro Católico”, os olhos do senhor Bispo brilhavam, mostrando a vontade de que fosse possivel formar escutismo em Gurué, assim pediu-nos que passássemos á residência do Padre Luciano, pois seria alguém interessado nesse projeto.
Depois das despedidas e do convite por parte da irmã Ana Paula e Madalena, para que o senhor bispo estivesse presente na semana seguinte em Invinha, para um almoço com os pobres e carenciados, este consultou a sua agenda, pois andava em visitas pastorais e teria de aproveitar o tempo propício antes das chuvas de outono pois nessa altura não seria possivel visitar as aldeias mais do interior, porque as estradas estariam inundadas e desta forma intransitáveis, mas um sim foi a sua resposta depois de mais uma insistência da nossa parte.
Passamos em Gurué, por diversos locais, as estradas esburacadas e em terra batida, com os esgotos á vista, deixavam um cheiro nauseabundo ao qual não estava a ser fácil ambientar-nos, o mercado ao ar livro onde se encontrava de tudo, o peixe e carne empestado de moscas, os pregos e parafusos á mistura, o material elétrico, os perfumes de fraca qualidade e o tão desejado sabão (caríssimo) o sal a granel duma cor esquisita tudo se podia comprar desde que houvesse meticais, o que na verdade não estava ao alcance de todos. Algumas pessoas aproveitavam para venderem os seus produtos da terra, ou até os bolos confecionados por eles mesmo mas nos quais a higiene deixava um pouco a desejar e nenhum de nós se atrevia a provar, não fossemos brindados com uma diarreia.
Aproximava-se a hora do almoço, uma passagem rápida á casa “Artes e Ofícios” também uma obra de Padres Italianos em especial o Padre Hilário e por fim a visita á Associação do Padre Luciano, por conselho do senhor Bispo, pois estaria interessado em formar o escutismo católico.
O Padre Luciano devido a outros afazeres, não nos poderia receber, eventualmente apenas da parte de tarde.
Regressamos a Invinha para almoçar, peixe frito, salada e arroz, sem faltar o café no final, começava no grupo a sentir-se alguma frustração, afinal tínhamos vindo para trabalhar e andávamos a passear, não foi para isto que viemos de tão longe a Invinha, queríamos deixar a nossa marca, queríamos fazer algo com as nossas próprias mão, queríamos tal como a irmã Flora dedicar um pouco de nós aquela gente que tão bem nos recebeu.
Mais uma vez nos deslocamos a Gurué para estarmos com o Padre Luciano, o que para grande deceção nossa, não foi possivel, á entrada estava um Guarda que além de nos impedir de tirar fotos, apenas se predispôs a chamar Dom Manuel, o ex. Bispo de Gurué, ficamos contentes, ao menos não perdíamos tudo, e foi com um sorriso que Dom Manuel nos recebeu, fazendo questão de cumprimentar um a um cada elemento do grupo, pois já tinha escutado noticias sobre a nossa vinda e do que vínhamos fazer, ele que tinha lidado de perto com a Irmã Flora traçou os mais altos elogios á obra desta santa mulher que ilumina o nosso caminho desde o longínquo ano de 2009 em que iniciamos esta caminhada.
Dom Manuel tinha deixado o paço aquando de um AVC e estava recolhido na Associação do padre Luciano onde dava apoio aos jovens que recolhiam para estudarem, custava-lhe imenso a caminhar.
Depois de mostramos a intenção de nos encontrarmos com o padre Luciano por incentivo de Dom Francisco, e insistência da irmã Ana Paula, Dom Manuel, marcou para que no dia seguinte á tarde voltássemos para uma visita local e o tão desejado encontro, entretanto a irmã Madalena não parava de magicar, aquela santa mulher ainda não tinha saído de uma já estaria a pensar na próxima, já tinha telefonado a encomendar cerca de 2 000 pães, pois fazia questão de que distribuíssemos não só na escola de Invinha mas também nas ruas e nas outras escolas das redondezas, pelas crianças pão com manteiga, assim de seguida fomos á padaria buscar a encomenda de mil pães e alguns quilos de manteiga, era a nossa tarefa no final do dia colocar manteiga no pão para fazermos uma primeira distribuição logo pela manha. Pelo caminho ainda compramos sal e sabão, assim como sabonetes e pasta de dentes entre outras coisas necessárias para a missão.
Antes do jantar as jovens tinham preparado uma celebração da palavra uma vez que o padre que estava previsto vir celebrar não podia, acontecia muitas vezes pois tinham de se deslocar e não era fácil com os transportes, foi uma celebração simples, mas que muito nos agradou, rejuvenescendo de alguma forma o nosso corpo espiritualmente, depois do jantar aproveitamos para passear um pouco, aqueles que o quisessem fazer, telefonar, sendo que teriam de se deslocar para fora da missão a caminho da igreja, o que por um lado era um privilégio, pois podíamos contactar com as pessoas que nos olhavam com alguma estranheza.
O jantar á hora habitual, frango frito e batatas
fritas acompanhado de uma salada, tudo produtos da machamba (campo onde
cultivam tudo) da missão, no final do jantar uma volta pela missão e mais um
alegre fogo de conselho em que não só nos divertimos como divertimos também
aquelas jovens, que mesmo longe dos seus familiares pelas mais diversas razões
nos mostravam que a vida deve ser levada com alegria e um sorriso, mesmo que o
seu coração chorasse, cantavam alegres melodias que nos enchiam de felicidade
fazendo por momentos esquecer que estávamos longe dos nossos familiares. A
noite chegava depressa e com ela, as nossas avaliações, entre algumas
discussões, chegava-mos mais uma vez á conclusão que tínhamos vindo a esta
terra para dar um pouco de nós e era mesmo o que queríamos fazer, a missão
precisava imenso; vidros nas janelas fechaduras nas portas, redes mosquiteiras
nas janelas, lâmpadas e tanto, tanto mais. Decidimos então que no dia seguinte
falaríamos com a irmã Madalena a responsável da missão, queríamos fazer algo,
começar a trabalhar, se por um lado era importante conhecer o terreno, as
pessoas etc., por outro lado o nosso coração ansiava por fazer algo por aquelas
pessoas. Tínhamos já terminado a nossa tarefa mais de mil pães já tinham
manteiga para serem distribuídos pelas crianças e com o nosso coração feliz
deitamo-nos felizes.
O amanhecer em Invinha é bem cedo, logo por volta de 5 horas começa a clarear o dia, acordamos com o chilrear dos pássaros, o ladrar dos cães que tanto nos recorda o nosso Portugal e as nossas aldeias, mas também com as vozes das crianças da missão que se preparam para irem para a escola, desde a higiene pessoal até um pequeno-almoço, antes das aulas que começam com a concentração no campo de jogos logo às 6,45h.
Nós no entanto como ilustres visitantes, como diziam as crianças, podíamos levantar mais tarde, o nosso pequeno-almoço era apenas às 7,30 horas, café com leite, manteiga e chocolate, eramos tratados duma forma que não queríamos nem desejávamos, desde o princípio o nosso sonho era, ter o mesmo tratamento daqueles que nos rodeavam, queríamos ter a noção do que é ser jovem e criança em Invinha onde a Irmã Flora se dedicou de alma e coração, mal nós sabíamos que havíamos de sair deste local sem saber essa realidade.
O retemperar de forças chegava ao fim, e já os jeeps se encontravam prontos para nos transportar até Gurué, onde além de visitar a cidade e capital de distrito iriamos também ser recebidos pelo Senhor Bispo.
Fomos recebidos por Dom Francisco, que além de nos mostrar a sua obra, nos recebeu com muito carinho, aqui na residência episcopal com uma vista fenomenal sobre o monte Namúli, tomamos conhecimento das dificuldades que mesmo um Bispo naquelas longínquas terras passa, Dom Francisco tem a Nacionalidade espanhola, tem uma casa simples dotada de algumas infraestruturas, como internet, mas onde a maioria dos computadores não funcionam devido á falta de manutenção, uma secretaria onde a maior parte das coisas são feitas á mão e arquivado depois.
As obras de recuperação que está a fazer assim como ampliação, visa dotar o paço, duma residência/casa de repouso para padres em recuperação, assim como visitantes que eventualmente passem por aqui, não é nada especial, mas num local daqueles é de certa forma um luxo.
Oferecemo-nos para mandar alguém do nosso grupo, para ajudar no que pudéssemos em especial arranjar os computadores e fazer-mos alguma manutenção, ficamos assim combinados que o Tiago, Abílio e Armando, no sábado seguinte iriam para a residência do Senhor Bispo.
Depois de comprar algumas recordações em especial, livros e trabalhos em madeira, Dom Francisco convidou-nos a visitar a oficina onde alguns artesões trabalhavam a madeira e por fim um café e aí nos deu a conhecer um correio eletrónico que tinha chegado de Portugal de alguém preocupado por não ter noticias nossas. Logo deu resposta, com a promessa de que cada um de nós telefonaria aos seus e entre gargalhadas lá continuamos a falar do que era a nossa aventura, o que nos tinha trazido a estas terras tão distantes de Fafe e Vieira, o sonho de fazer algo pelos outros e acima de tudo a vontade de prestar uma homenagem á Irmã Flora, que Dom Francisco não conheceu, mas de quem tinha escutado coisas maravilhosas, falamos como não podia deixar de ser do escutismo e do que é ser “Escuteiro Católico”, os olhos do senhor Bispo brilhavam, mostrando a vontade de que fosse possivel formar escutismo em Gurué, assim pediu-nos que passássemos á residência do Padre Luciano, pois seria alguém interessado nesse projeto.
Depois das despedidas e do convite por parte da irmã Ana Paula e Madalena, para que o senhor bispo estivesse presente na semana seguinte em Invinha, para um almoço com os pobres e carenciados, este consultou a sua agenda, pois andava em visitas pastorais e teria de aproveitar o tempo propício antes das chuvas de outono pois nessa altura não seria possivel visitar as aldeias mais do interior, porque as estradas estariam inundadas e desta forma intransitáveis, mas um sim foi a sua resposta depois de mais uma insistência da nossa parte.
Passamos em Gurué, por diversos locais, as estradas esburacadas e em terra batida, com os esgotos á vista, deixavam um cheiro nauseabundo ao qual não estava a ser fácil ambientar-nos, o mercado ao ar livro onde se encontrava de tudo, o peixe e carne empestado de moscas, os pregos e parafusos á mistura, o material elétrico, os perfumes de fraca qualidade e o tão desejado sabão (caríssimo) o sal a granel duma cor esquisita tudo se podia comprar desde que houvesse meticais, o que na verdade não estava ao alcance de todos. Algumas pessoas aproveitavam para venderem os seus produtos da terra, ou até os bolos confecionados por eles mesmo mas nos quais a higiene deixava um pouco a desejar e nenhum de nós se atrevia a provar, não fossemos brindados com uma diarreia.
Aproximava-se a hora do almoço, uma passagem rápida á casa “Artes e Ofícios” também uma obra de Padres Italianos em especial o Padre Hilário e por fim a visita á Associação do Padre Luciano, por conselho do senhor Bispo, pois estaria interessado em formar o escutismo católico.
O Padre Luciano devido a outros afazeres, não nos poderia receber, eventualmente apenas da parte de tarde.
Regressamos a Invinha para almoçar, peixe frito, salada e arroz, sem faltar o café no final, começava no grupo a sentir-se alguma frustração, afinal tínhamos vindo para trabalhar e andávamos a passear, não foi para isto que viemos de tão longe a Invinha, queríamos deixar a nossa marca, queríamos fazer algo com as nossas próprias mão, queríamos tal como a irmã Flora dedicar um pouco de nós aquela gente que tão bem nos recebeu.
Mais uma vez nos deslocamos a Gurué para estarmos com o Padre Luciano, o que para grande deceção nossa, não foi possivel, á entrada estava um Guarda que além de nos impedir de tirar fotos, apenas se predispôs a chamar Dom Manuel, o ex. Bispo de Gurué, ficamos contentes, ao menos não perdíamos tudo, e foi com um sorriso que Dom Manuel nos recebeu, fazendo questão de cumprimentar um a um cada elemento do grupo, pois já tinha escutado noticias sobre a nossa vinda e do que vínhamos fazer, ele que tinha lidado de perto com a Irmã Flora traçou os mais altos elogios á obra desta santa mulher que ilumina o nosso caminho desde o longínquo ano de 2009 em que iniciamos esta caminhada.
Dom Manuel tinha deixado o paço aquando de um AVC e estava recolhido na Associação do padre Luciano onde dava apoio aos jovens que recolhiam para estudarem, custava-lhe imenso a caminhar.
Depois de mostramos a intenção de nos encontrarmos com o padre Luciano por incentivo de Dom Francisco, e insistência da irmã Ana Paula, Dom Manuel, marcou para que no dia seguinte á tarde voltássemos para uma visita local e o tão desejado encontro, entretanto a irmã Madalena não parava de magicar, aquela santa mulher ainda não tinha saído de uma já estaria a pensar na próxima, já tinha telefonado a encomendar cerca de 2 000 pães, pois fazia questão de que distribuíssemos não só na escola de Invinha mas também nas ruas e nas outras escolas das redondezas, pelas crianças pão com manteiga, assim de seguida fomos á padaria buscar a encomenda de mil pães e alguns quilos de manteiga, era a nossa tarefa no final do dia colocar manteiga no pão para fazermos uma primeira distribuição logo pela manha. Pelo caminho ainda compramos sal e sabão, assim como sabonetes e pasta de dentes entre outras coisas necessárias para a missão.
Antes do jantar as jovens tinham preparado uma celebração da palavra uma vez que o padre que estava previsto vir celebrar não podia, acontecia muitas vezes pois tinham de se deslocar e não era fácil com os transportes, foi uma celebração simples, mas que muito nos agradou, rejuvenescendo de alguma forma o nosso corpo espiritualmente, depois do jantar aproveitamos para passear um pouco, aqueles que o quisessem fazer, telefonar, sendo que teriam de se deslocar para fora da missão a caminho da igreja, o que por um lado era um privilégio, pois podíamos contactar com as pessoas que nos olhavam com alguma estranheza.
sábado, 23 de março de 2013
4ª Feira 22 de Agosto Viagem atribulada de Quelimane até Invinha
Foi dormir a correr, o despertador começa a tocar, corpo
ainda dorido e olhar cansado, levantar às 4 da manhã tínhamos uma longa viagem
pela frente de Quelimane até Invinha, depois de um reconfortante pequeno
almoço, café pão e fruta, entre algumas riso-tas íamos carregando as malas,
ainda 300 km nos separavam no local que iria ser a... nossa casa durante os
próximos dias, muitos foram também os contratempos, eram tão só 24 pessoas numa
carrinha com capacidade para 14 e os mais de 3 mil quilos de material que
levávamos excedia em muito os 1500 permitidos na viatura, às 4,30 estávamos a
despedir-nos das irmãs Franciscanas sem muito ruído para que as crianças não
acordassem, esta viagem estava destinada a fazer história, íamos todos ao monte
e fé em Deus, mais amontoados que sardinhas em lata, logo ao sair da missão a
carrinha bateu por baixo e soltou-se o pneu suplente, “ El Gordo” o nosso
simpático motorista, que o Zé Maria junto dele era um mister universo, em nada
podia comparar os seus 110 Kg com os quase 200 do motorista, mas tinha uma
ginástica de fazer inveja com o ajudante, lá encaixaram de novo o pneu e nos
fizemos de novo ao caminho, bem o Zé Maria e a Irmã Ana Paula iam que nem lordes
no banco da frente junto do motorista, os outros esses faziam das tripas
coração para caberem todos, mas a boa disposição perdurava, pelo menos até ao
momento em que íamos a sair da Zona de Quelimane e tivemos um controle do
exército, tudo bem e ate um sorriso por ver aquele enlatado de sardinhas na
carrinha do “ El Gordo”, que como se não chegasse, tivemos mais um controle da
policia, todos tivemos de sair e aqui eles já não gostaram da brincadeira, era
ver a admiração dos policias, com os que saiam da carrinha, ainda não tínhamos
chegado aos 15 e já estavam a perguntar:
Não gostaram nada mesmo do que viram e o “El Gordo” teve de
pagar, não uma bela multa, pelo não só excesso de peso de bagagem e também de
pessoas, embora isso já fosse habitual por aquelas zonas, mas claro por baixo
da mesa foi passando as notas de meticais.
Não, não era suborno, quem fala nisso era apenas um obrigado
por nos deixar seguir viagem.
Podem seguir, foi o que quisemos ouvir, pior foi
acomodarem-se de novo, bem o Zé Maria e a Irmã Ana Paula não tiveram esse
problema, mas entre alguns gritos por pisarem os calos e gargalhadas á mistura
lá seguimos viagem.
Depois de quase 180 Km e já com umas largas horas de viagem,
um pneu furado.
Que mais nos irá acontecer? Lá teve de trabalhar “El gordo e
o seu ajudante, mudar o pneu até era tarefa fácil.
- Puxa, está mais careca que o Zé Maria, até tem os arames á
mostra, respondeu a Liliana.
- Não passa nada, respondeu “ El Gordo” quando voltar compro
outro e logo que possa arranjo este.
Lá seguimos viagem novamente, ao menos deu para esticar as
pernas e apanhar um pouco de ar naquela manha, começava a fome a apertar,
valeram algumas bolachas que fomos distribuindo uns pelos outros, até que uma
paragem numa aldeia á beira da estrada, para arranjar o Pneu furado e claro
tirar o carequita. Quando saímos as nossas fardas chamaram a atenção,
amontoavam-se as pessoas a quererem vender algo, desde a galinha dependurada de
cabeça para baixo.
- Coitada da galinha, o que ainda tem de sofrer antes de ser
papada disse o Paulo.
O Peixe a cheirar mal, os muitos frutos e como não podiam
faltar os bolos artesanais cobertos de moscas, sem faltarem os cachos de
bananas, cada cacho custava 100 meticais.
- Já viste Zé, apenas 3 € e são mais de 50 bananas, disse o
Abílio - Bem, vai ser o nosso almoço malta.
- Pois o problema vai ser decidir a quem vais comprar,
respondeu o Zé Fernando.
- Nem uma coisa nem outra é a que tiver mais pois é porque
vendeu menos e está mais pesada e lá compramos um grande cacho. Pareciam
macacos a comer bananas, não fizemos contas a quem comeu mais, mas a verdade é
que desapareceram num instante.
- Se alguém andasse de diarreia logo estava durinho, disse o
Guilherme.
- Com esta viagem sempre sentados e tão demorada o problema
vai mesmo ir á sanita, rsrsrsrsrsr ria-se a Patrícia.
- Pessoal está a entrar, o pneu está mudado e vamos seguir
viagem, ainda nos faltam mais de 100 Km, disse o Armando que acompanhava de
perto os trabalhos. Mais uma vez todos ao monte e enlatadinhos para não terem
frio, a viagem seguiu, estávamos agora a atravessar um troço de estrada que era
em terra, andava em obras, pouco mais de 30 Km tínhamos percorrido quando fomos
alertados pelo Guilherme que sentia um barulho estranho.
- Não acham que está a fazer atrás um barulho estranho?
- Oh, não digas que é outro furo, logo respondeu o Costa.
- O melhor é parar, oh senhor motorista pare, porque há um
barulho estranho aqui atrás, disse o Carlos.
Um bocado contra gosto “ El Gordo” parou, era um descampado,
mas uma paisagem bela, viam-se alguns pássaros no ar. Quando o Guilherme saiu
ficou amarelo, afinal o barulho que se fazia sentir era a roda que estava
solta, apenas tinha a prender 1 parafuso, os outros estavam partidos e o cubo
de rodas também, o expert na matéria “ El Gordo”. Não há problema, podemos
seguir agora a estrada é boa e dá para chegar a Invinha-
- Da forma que está, é para irmos por uma ribanceira a
abaixo. Logo respondeu a Diana.
Vai cão vai casota vai tudo, e não foi para isso que viemos
para cá, disse a Patrícia que se tinha mantido calada, a Irmã Ana Paula falou
como o motorista e este ligou, para um colega, que estava a passar por esses
lados e iríamos fazer o transbordo, saímos do “El Gordo” e entramos no “Rock
Santeiro”, de mal a pior se numa carrinha nos aconteceu de tudo este era mesmo
maluco a andar….
- Oh Santeiro, nós até acreditamos em milagres mas olha lá
se andas mais devagar com a chafarica, quem já leva 10 horas de viagem, também
pode demorar mais algumas horas mas o que queremos é chegar. Diziam algumas
boquitas mais preocupadas lá de trás.
Por fim a tão desejada placa de sinalização, Gurué 30 Km,
mal nós sabíamos que estávamos mesmo a chegar a Invinha, mais um pouco em
estrada de terra e por a sinalização, Escola Secundária Madre Clara de Invinha…
Ufa enfim, chegamos, ninguém o disse mas todos pensaram com certeza, eram cerca
das 16 horas, estava previsto chegar cerca das 11, ate nem nos atrasámos muito,
mal saímos da carrinha. Fomos mais uma vez brindados, com a bela melodia
daquelas crianças do Internato: “ Bem-vindos” e algumas flores em especial para
as meninas. Foram 11 horas tormentosas para fazer 300 Km, mas valia apena, era
o concretizar de um sonho assim como a bela melodia que sentíamos nos ouvidos
entoada por aquelas crianças.
Bem-vindos
A esta nossa linda casa
Bem-vindos
A esta nossa linda casa
A alegria é de todos nós
Esperemos que se sintam em casa
Depois de nos acomodarmos, montando as redes mosqueteiros nas camas, tomamos um duche á pressa, ainda deu para esticar as pernas e um
pequeno passeio em que alguns aproveitaram para telefonar aos familiares.
Não há rede aqui, dizia a Cláudia,
O Zé Maria, olhando para o telemóvel disse, pouca mas alguma
há.
O Armando a rir-se apontou para a vedação, é a esta que te
estás a referir?
E lá veio gargalhada geral, o que a Cláudia não gostou
muito. Mas tudo não tinha passado de um mal-entendido, quando regressamos ao
centro da missão já estava a escurecer, as crianças como que fugiam de nós,
talvez o primeiro receio ou a vergonha de lidar com estranhos, preparamo-nos
para jantar, eram 18,30, algo muito parecido com um frango estufado e arroz.
Foi com certeza o pensamento de todos: o carinho e amor que
nos põe a mesa é tão grande, será que aquelas crianças irão comer igual?
Claro que não, como eles dizem, “ vocês são os nossos
ilustres visitantes”, nós pelo contrário apenas nos queríamos sentir como a
irmã Flora, humildes servidores.
Ao longo da nossa caminhada em Fafe e Vieira do Minho, seja
na fase de angariação de bens essenciais para aquela gente, ou posteriormente
para a nossa viagem, muitas foram as duras e más respostas que ouvimos, gostava
agora que fossem essas mesmas pessoas a estarem no nosso lugar, sentirem aquela
alegria, verem o sorriso sincero de coração aberto e as canções de alegria.
Meu Deus, será que na verdade o que trouxemos vale tanto?
Ficam-me a bailar na mente as palavras de madre Teresa de
Calcutá, “é apenas uma gota de água no Oceano” mas vale apena o que fazemos
pois cada gota faz crescer esse mesmo oceano.
No final da nossa refeição fomos convidados, para uma
pequena festa de boas vindas, aproveitamos a alegria reinante para a
distribuição de algumas guloseimas, os sorrisos destas crianças eram a melhor
gratificação que alguém poderia alguma vez desejar, faziam-nos transbordar o
coração, mas ao mesmo tempo alguns de nós com olhar distante sentiam uma enorme
tristeza, por ver que por muito que tivéssemos feito, muito mais ainda
poderíamos ter feito, ajudaram-nos a ajudar e sabendo das enormes dificuldades
que muitas famílias passam nas freguesias por nós visitadas, as privações que
algumas das nossas crianças passam, em nada se comparam, com estas crianças
acolhidas nas casas “Mãe Maria Clara, umas órfãs de pais vitimados pelo VIH,
outras acolhidas em regime de internato por maus tratos, sabendo que com pouco
mais de 20 € euros por mês é possível dar uma vida condigna, desde cama,
alimentação e educação.
A festa de boas vindas chegava ao fim, com muita alegria
misturada com o nosso cansaço e uma vontade enorme de descansar, mas também
aquelas crianças teriam de o fazer, pois a escola começava bem cedo, logo às
6,30 da manhã.
Depois duma oração geral, ainda nos esperava a nossa
avaliação e por fim o mais que merecido descanso. Muito era o trabalho a fazer,
mas a boa disposição permanecia em nós mesmo com algumas pequenas quezílias,
que eram sempre ultrapassadas neste encontro de meditação e avaliação ao final
do dia onde não faltou de novo a rede e o telemóvel, apesar da tentativa de
explicação que não houve intenção de brincar fosse com quem fosse, apenas um
mal-entendido, que se ultrapassou.
No encontro com a irmã Madalena, nessa noite, ficamos a
saber que no dia seguinte iríamos ser recebidos pelo Senhor Bispo de Gurué,
sabendo da nossa chegada, tinha imensa curiosidade em não só, nos conhecer mas
também em nos receber na sede episcopal.
Cada um recolheu-se aos seus aposentos e os mais teimosos ainda tiveram força para umas cartadas e algumas brincadeiras.
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